Um mundo sem tempo...



Falar sobre o fim do mundo e não cair em um clichê escatológico é quase impossível. De minha parte, não sou tão inteligente a ponto de evitar o drama, mas o apelo está aí. Na verdade, levando em conta a realidade humana, estar a beira da destruição é quase um lugar comum para nossa espécie... O problema é que enfrentamos a ameaça do Aquecimento Global da pior maneira possível.

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A ONU alertou, ainda ano passado, que as temperaturas globais já estão começando a exceder 1º C acima das temperaturas pré-industriais. Inclusive, é de se levar em conta que nos últimos 500 anos o planeta lidou com pelo menos 3 ou 4 resfriamentos, mas nenhum desses processos se deu nos últimos 250 anos. A indústria trouxe um impacto que só se tornou cada vez mais amplo na realidade do ecossistema terrestre.

Os dados já mostram que um aumento acima de 1,5º C já trarão efeitos extremamente complicados para a vida na Terra. Acima dos 2º C é cabível de se dizer que o caos há de se instaurar. A diferença de 0,5º C faria toda a diferença nos efeitos a longo prazo de chuvas torrenciais, enchentes, tempestades tropicais e árticas, bem como o agravamento geral dos extremos das temperaturas globais. O termo "aquecimento global" sugere o que diz, mas seus efeitos levam aos dois extremos, tanto para o aumento das temperaturas nos períodos de calor, quanto a redução drástica de temperaturas nos invernos.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) pede por 1,5º C, mas tem toda a convicção da dificuldade de tal meta. Para muitos ela é impossível. Os grandes produtores de gases estufa do mundo como China e EUA não apresentam interesse em tratar a questão com a seriedade devida. Ao cobrar tais medidas de conservação dos países em desenvolvimento, também há o problema de por seu desenvolvimento econômico em cheque, vulnerável aos avanços predatórios do mercado internacional.

A gravidade dos efeitos das mudanças climáticas trazem um sentido de fim de mundo. Em uma publicação da Nature, que aqui leio da Revista Galileu, encontraram evidências que os efeitos do processo atual de aquecimento são os piores dos últimos 2000 anos. Ligar a ação humana, principalmente decorrente ao avanço da economia industrial, é algo inevitável. No entanto a sensação de "responsabilidade" é mitigada pela expansão do negacionismo.

Negar dados científicos não é uma atividade unicamente de nosso tempo. Demorou para a comunidade mundial passar a dar o devido crédito a Louis Pasteur e sua revolução que apresentou ao mundo a função patológica dos micro-organismos. O problema é que o negacionismo contemporâneo se tornou um movimento amplamente político. Anti-vacinação, "terraplanismo", negadores do aquecimento global... A grande arma de todos estes é utilizar a ciência como moeda de barganha e subjugar o discurso científico em favor dos interesses econômicos, políticos e ideológicos.

Falar sobre fim de mundo traz, em outro ponto da corda, a busca por salva-lo. Os esforços existem, mesmo não sendo respeitados. Hoje já entendemos, por exemplo, que em florestas temperadas (aquelas que estão nas regiões dos Trópicos e não do Equador) os grandes responsáveis pela fixação de carbono não são as árvores, mas a rede de fungos que fica sob o solo. Sabemos também que as mudanças climáticas afetam a dinâmica global de doenças, bem como a produção de alimentos. As áreas de presença de doenças tropicais são expandidas e as áreas de produção de alimento são reduzidas, principalmente com o aumento de secas e enchentes.

No pós-Segunda Guerra houveram muitos terrores. Seja ameaça de superpopulação por causa da explosão de natalidade por todo o globo, seja a ameça da guerra nuclear. Os muitos "fins de mundo" foram abordados de múltiplas formas pelo cinema e literatura. Essas distopias discutiram sobre as possibilidades de uma humanidade derrotada, na maior parte das vezes, pela própria imaturidade e displicência. A mais recente narrativa sobre a irresponsabilidade humana é encontrada em "Interestelar", uma obra que, mesmo possuindo um final feliz, tem sua trama profundamente entrelaçada com as consequências das ações humanas sobre o planeta.

Mas, para não dizer que não falei de flores, em "Interestelar" a humanidade venceu a aniquilação ao não ter medo de usar a ciência a seu favor e, consoante a esse sentimento, fiquem sabendo que nós estamos vencendo o buraco na camada de ozônio. Tanto que muitos de vocês, nascidos depois de 2000, nem tem muita noção do quão grave isso chegou a ser. Por outro lado, as crianças da década de 90 como eu tivemos aulas bem longas de como os CFC's eram destrutivos para a Ozonosfera.

Enfim, mas acho que essa história fica pra depois. Existem tantas outras histórias...

http://agencia.fapesp.br/acordo-de-paris-e-insuficiente-para-frear-o-aquecimento-global-diz-relatorio/24052/

https://www.dw.com/pt-br/onu-alerta-para-graves-efeitos-de-aquecimento-global-superior-a-15c/a-45794309






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